Prova de Vida
Eu lido mal com perdas, seja de que espécie for, tudo o que ao longo do tempo vou conquistando acredito que é para sempre, e às vezes tenho confrontos comigo própria e com a realidade porque percebo que não estou preparada para perder "peças" chave na minha vida.
Recordo um infância feliz com muita gente à minha volta, a casa dos meus pais sempre cheia e muitas brincadeiras, convívio familiar e festas, tenho uma família grande, sobretudo a paterna somos do Alentejo, boa disposição é o que nos caracteriza.
Recordo gargalhadas e brincadeiras com os meus tios e não estou preparada para ir perdendo quem me fez feliz, sei que faz parte da vida e é inevitável mas doi.
Há 6 anos perdi o meu tio (irmão mais velho do meu pai) custou, custou deixar de ver aquela figura carismática que só de olhar sem ele dizer nada tinhámos a certeza que ele era alentejano e custou deixar de o ouvir cantar canções da sua terra. À medida que o tempo vai passando vou sabendo que vão aparecendo algumas mazelas e doenças aos menbros mais velhos da família e isso faz me pensar que mais cedo ou mais tarde vou ser assolada por mais uma perda para a qual não estou preparada.
Ontem fui visitar um tio, esta visita já estava prometida à algum tempo e achei que era o momento, fiquei feliz e triste, feliz porque me encheu o coração aquele abraço apertado que recebi, triste porque vi marcas de uma velhice repentina provocada por uma doença degenerativa, do homem que me fazia rir só restava um sorriso já um pouco apagado e uma voz arrastada.
Estas são as mais duras provas de vida, quando percebemos que mais cedo ou mais tarde aqueles que contribuiram para a construção do nosso eu vão nos deixando.