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acimadetudoviver

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Livros

A Perfumista, Cristina Caboni

20.10.20, acimadetudoviver

Este verão foi sem dúvida dedicado às leituras, eis outro livro que me deu prazer ler: "A Perfumista" de Cristina Caboni fala de aromas e perfumes, e como eles podem traduzir o estado de espírito de uma pessoa, até mesmo a sua personalidade, cada essência corresponde a uma característica, a um sentimento, a uma emoção e a sua mistura harmoniosamente pode captar e personificar o que cada pessoa é, no seu íntimo, como pensa, como age, como sente, no fundo como vive.

O livro não fala só de essências, aromas e óleos no fundo é o mote para descrever a personagem principal, Elena Rossini, e a forma como esta se move ao longo da história, que começa por não querer o legado que lhe é deixado pela família, o conhecimento dos perfumes, para no decorrer da acção a personagem se envolver e se conhecer a si própria, assim como a sua herança através desses mesmos aromas.

O facto de "Elena" ser caracterizada como sendo insegura, com uma fraca auto-estima traduz-se na procura incessante da felicidade através de outras pessoas, outros sonhos, outros ideais que a personagem acredita serem os dela porque nega o que lhe foi deixado pela família, até que a vida lhe mostra que a felicidade dela é o que esteve sempre ali e que faz parte de "Elena" desde sempre, a herança do diário da sua bisavó onde supostamente consta a formúla do perfume perfeito, o legado do saber e do conhecimento das ervas, das plantas e dos aromas da sua avó e mais tarde já em Paris quando ela percebe que o amor da sua vida vive na casa ao lado da sua.

No fundo podia ser a história da vida de qualquer pessoa, na minha vida encaixa-se na perfeição, com excepção para a parte do amor da minha vida que não vive seguramente na casa ao lado da minha, acredito sim que viverá algures pelo mundo, e como romântica incrrigível que sou irei concerteza um dia deparar-me com ele, o amor, claro!

1 Ano

02.10.20, acimadetudoviver

Foi há um ano que eu soube que tinhas partido antes de alguém me dizer, foi há um ano que eu disse à médica do hospital que não queria ouvir o que ela ia dizer, foi há um ano que a tua voz se calou e não voltaste a dizer  que estava tudo bem, mesmo quando eu sabia que não estava, foi há um ano que eu disse que não queria saber a causa da morte porque não te trazia de volta.

Foi há um ano que te tirei inerte de dentro de uma camara frigorífica gelado por fora e tratei de ti com todo o cuidado, vesti o fato que tu já tinhas escolhido, porque tu eras assim, pensavas em tudo e decidias tudo com muita antecedência, nisso somos iguais. Penteei-te como tu gostavas, fiz-te a barba, tu detestavas ter a barba por fazer e coloquei o teu melhor sorriso poque tu estavas sempre a rir mesmo que a vida estive contra ti, mais uma coisa em que somos iguais.

Engoli o meu desejo e coloquei-te em velório, algo que eu sempre disse que não fazia, mas cedi, em nome de outras pessoas que gostavam de ti e em teu nome que querias que elas ali estivessem, para tu dizeres até breve.

Foi há um ano que me disseram que eu não me deveria envolver na preparação do teu funeral porque ia ser mais dificil ultrapassar a perda. Não, a perda não se ultrapassa apenas atenua a dor à medida que o tempo passa. E tratar de tudo há um ano atrás só fez com que eu aceitasse que tu já não estavas presente, eu não iria suportar que outras pessoas cuidassem de ti, ou que te vestissem, foi a forma que eu arranjei de fazer o luto, de fazer uma catarse da perda que sofri.

A última imagem que eu tenho não é de ti numa maca de hospital frio e inerte acabado de sair da câmara, nem tão pouco é a imagem de ti numa urna no meio de tanta gente que gostava de ti, quando fecho os olhos não te vejo assim, não te vejo sem vida, vejo-te junto das "tuas pessoas" a rir, a contar histórias, sempre, a comer e a beber que era como tu eras feliz.

Foi há um ano que eu deixei de partilhar esses momentos contigo e já há dias que eu consigo passar sem que as lágrimas me caiam sem eu as conseguir conter, mas não hoje, porque hoje foi o dia em tu me morreste, hoje é o dia em que eu me permito ser egoísta e dizer que me fazes tanta falta.